Talmidim, a Palavra de Deus e as consequências
Talmidim: Lendo partes desta obra, me deparo com um devocional em João 17:17 onde o autor começa dizendo sobre a relação do cristão com o mundo e tal, até que ele diz: "A forma correta de nos relacionarmos com o mundo é obedecendo a Palavra de Deus. Mas a Palavra não é um monte de regras ou doutrinas religiosas ou teológicas. A Palavra é o verbo encarnado Jesus". A velha falácia do argumento duplo: diz uma verdade junto com uma mentira onde os defensores do sujeito só se lembram da verdade. É óbvio que Jesus é a Palavra de Deus (logos no grego, muito mais Palavra do que razão) e quanto a isso não há dúvidas ao cristão. Só há um problema fundamental: A Palavra (Jesus) está a destra do Pai nos céus (Atos 7:55-56). Como ter uma vida agradável a Deus vivendo neste mundo caído se a Palavra encarnada não está entre nós? Obviamente é atentando na Palavra revelada (escrita) de Deus, a Bíblia. Ao definir que devemos ter a Palavra encarnada como exemplo, o autor da obra cria diversos problemas:
1- Os ensinos de Jesus são mais importantes que qualquer outro ensino bíblico.
Este é um erro muito comum pois visa dar um maior peso ao que Jesus ensinou do que os profetas ou seus apóstolos por exemplo. Porém o cristã deve ter em mente que a bíblia é um livro único que contem muitos livros, uma parte não pode e não deve ser
tratada como mais importante pois, do contrário, qual a necessidade dos demais 62 livros do cânon bíblico?
2- Assume que a bíblia não tem serventia para ensinar o caminho certo ao cristão.
Se eu preciso apenas atentar nos ensinos da Palavra encarnada, para quê eu precisaria da Palavra revelada? Começaremos agora a fazer leitura seletiva da bíblia, onde eu levo em consideração apenas o que me convêm? Já dizia Agostinho: se eu levo em conta apenas a parte do evangelho que me agrada, não é o evangelho o que eu amo.
3- Repete a velha heresia Marcionita/liberal teológica de que a Bíblia não é a Palavra de Deus, apenas contem a Palavra de Deus.
Desde Marcião no século II até os liberais teológicos atuais (filhos de heresia deste) a Palavra de Deus revelada (Bíblia) tem sido atacada covardemente. Um dos principais argumentos de liberais teológicos é alegar frases como: "A bíblia é um livro de erros mas Deus fala através desses erros" (Karl Barth, comentário ao romanos) entre outros argumentos. O motivo é a suposta falta de amor do Deus do antigo testamento quando setencia pessoas à morte em relação aos mandamentos encontrados no novo. Na cabeça de tais pessoas, boa parte do antigo testamento e algumas do novo (especialmente com Marcião) não fazem parte do cânon bíbico pretendido por Deus, pois se chocam ou com as ideias humanistas ou com partes da ciência. O Senhor Jesus faz questão de quebrar este raciocínio, como por exemplo em João 5:35 onde ele diz: "As escrituras (antigo testamento) dão testemunho de mim" (tradução livre) ou o salmo 119 que é um louvor gigantesco a supremacia da Palavra de Deus (naquele contexto, o antigo testamento).
4- Impede um relacionamento objetivo com Deus, tudo torna-se subjetivo.
Ao afirmar que o nosso relacionamento é com uma Pessoa que não está aqui corporalmente (é óbvio que o Senhor Jesus pode se manifestar como e quando quiser, porém Ele mesmo disse que só voltaria para buscar sua igreja) o autor em questão implicitamente destrói em seus leitores a possibilidade de se conhecer a Deus de forma em que Ele seja o padrão para tudo e todos. Em outras palavras, somente a experiência pessoal é que conta (como fazem alguns [não todos] pentecostais). Sendo assim, torna-se impossível afirmar verdades sobre o ser de Deus e sobre sua verdade, sendo que o próprio conceito de verdade torna-se líquido pois, se o meio pelo qual nós nos relacionamos com Deus não está aqui, como podemos atestar verdades sobre Ele? Alguém pode contra-argumentar: Ele quis enfatizar o relacionamento com o Senhor Jesus. Mas isso não é atestado em nenhuma parte do devocional. O autor apenas joga a frase e a deixa sem uma explicação maior, com mais detalhes. Logo, a responsabilidade do correto entendimento é do autor do livro. Levando em consideração o seu passado...
Outro problema fundamental da falta de um conceito sólido sobre o relacionamento com Deus é a "colcha de retalhos" que Deus seria. O seu Deus seria de um jeito, o meu de outro, o do John Piper seria também diferente e o do Norman Geisler então nem se fala. Ao afirmar que o caminho para um relacionamento com Deus é se relacionando com Jesus (correto) a parte da Palavra de Deus (errado) nossa mente caída e pecaminosa fatalmente criaria deuses segundo a nossa imagem e semelhança (consultar romanos 1).
5- A relativização da verdade e do pecado.
Com deuses a nossa imagem e semelhança, a própria verdade de Deus seria um conceito dificil de se atingir, pois todos teríamos deuses de estimação. Consequentemente, o conceito de pecado também seria subjetivo: o que é pecado para o seu conceito de Deus não é para o meu conceito de Deus. A falta de um padrão objetivo de verdade, ou a escolha seletiva do que é verdade ou não levada as últimas consequências levam a um padrão de desordem e confusão. Quando Israel não tinha rei, cada um fazia o que achava mais correto (falta de padrão objetivo) e o resultado foi uma anarquia pecaminosa. A Palavra de Deus revelada a nós existe para isso mesmo: evitar que caiamos o engano do erro do pecado, pois a mesma é inspirada por Deus (II Timóteo 3:16).
Conclusão
Como sempre, aparecerão pessoas dispostas a defender o autor da presente obra com argumentos do tipo: essa frase em um devocional não prova nada, isso é procurar chifre em cabeça de cavalo, você não observou as coisas boas, etc. Mas será mesmo que vale a pena emprestar seus ouvidos e olhos a uma mentira tão grande em torno de algumas verdades? Alguém questionaria: mas não devemos ouvir todas as coisas e reter o que é bom (ITessalonicenses 5:21)? O contexto trata da vida do cristão dentro e fora da igreja: ele não deve desprezar as profecias (quando alguém fala em nome de Deus), aplicar o conceito anteriormente argumentado e fugir da aparência do mal. Alguém colocaria a mão no esgoto por causa de 2 centavos? Alguém beberia um copo de água limpa com apenas uma gota de veneno? Duvido muito que alguém em sã consciência diria que sim. Se somos tão preocupados assim com nosso corpo, por que não seríamos ais cuidadosos ainda com nossas almas? Este tipo de ensino corrosivo sempre cobra seu preço, as igrejas protestantes na Europa que o digam. Que Deus tenha misericórdia de quem toma ensinos como estes em consideração.
"Todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas vai além dele, não tem Deus; quem permanece no ensino tem o Pai e também o Filho."
2 João 1:9