Tiago x Paulo:
rivais?
Um ponto que parece confundir muitos cristãos é a questão da
justificação. Atualmente parece consenso de que a justificação é pela fé
somente mas quando chegamos na carta de Tiago capítulo 2 vemos que o homem
também é justificado pelas obras. Será então que há um equilíbrio entre as
duas? Esse tipo de desconhecimento da Palavra chega a levar pessoas a afirmarem
em pregação que Tiago pregou contra Paulo.
“Onde
está logo a jactância? Foi excluída. Por que lei? Das obras? Não; mas pela lei
da fé.concluímos
pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.” Romanos
3:23
“Vedes então que o homem é justificado
pelas obras, e não somente pela fé.” Tiago 2:24
Algo que
costuma ser ignorado é a consulta do idioma grego. No grego, a palavra
justificação é “Dikaioo” que têm 2 significados: atribuir justiça e mostrar-se
justo. [1] Esse entendimento será vital para entendermos o equilíbrio dessa
questão.
Em romanos
capítulo 4, Paulo usa o exemplo de Abraão para fundamentar seu argumento de
justificação pela fé somente:
“Que
diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne?
Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.
Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida;
porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como justiça; assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus atribui a justiça sem as obras, dizendo:Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputará o pecado.” Romanos 4:1-8
Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.
Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida;
porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como justiça; assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus atribui a justiça sem as obras, dizendo:Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputará o pecado.” Romanos 4:1-8
Aqui a palavra “Dikaioo” aparece em seu primeiro sentido:
atribuir justiça. Mesmo sendo somente uma palavra, sabemos o seu sentido por
causa do contexto que a envolve; seria impossível aqui Dikaioo ser "mostrou-se
justo."
“Mas
queres saber, ó homem insensato, que a fé sem as obras é inútil?
Porventura não foi pelas obras que nosso pai Abraão foi justificado quando ofereceu sobre o altar seu filho Isaque? Vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E se cumpriu a escritura que diz: E creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça, e foi chamado amigo de Deus.Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé. E de igual modo não foi a meretriz Raabe também justificada pelas obras, quando acolheu os espias, e os fez sair por outro caminho?
Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.” Tiago 2:20-26
Porventura não foi pelas obras que nosso pai Abraão foi justificado quando ofereceu sobre o altar seu filho Isaque? Vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E se cumpriu a escritura que diz: E creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça, e foi chamado amigo de Deus.Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé. E de igual modo não foi a meretriz Raabe também justificada pelas obras, quando acolheu os espias, e os fez sair por outro caminho?
Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.” Tiago 2:20-26
Aqui a palavra “Dikaioo” (justificação) entra no segundo
sentido, pois o contexto fala de algo prático, algo que foi feito, e não algo
que outro fez por Abraão.
Então chegamos ao sentido cronológico da coisa para a correta
harmonização: No exemplo de Paulo em Romanos 4, Abraão ainda não tinha seu
filho, ele tinha acabado de sair da terra dele, tinha acabado de crer na voz
que chama (Deus) e recebe a promessa de que seria Pai de muitas multidões.
“Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado
como justiça.”
Essa frase ocorre em um momento onde Abraão estava
desanimado com o fato de não haver herdeiro dele e que sua herança e bênção
iriam a um filho de um servo (Eliézer). Deus então promete que a descendência de
Abraão seria como as estrelas do céu e então crê.
Muitos anos mais tarde (mais de 20) ocorre o episódio
descrito por Tiago: “Porventura não foi
pelas obras que nosso pai Abraão foi justificado quando ofereceu sobre o altar
seu filho Isaque?”
A harmonização é essa: Abraão primeiro foi justificado
somente por crer em Deus (Gênesis 15:6) e então, a partir daí, suas obras
começam a exteriorizar (tornar manifesto) a salvação que Ele possuía em Deus, culminando
com o capítulo 22 de Gênesis quando ele oferece Isaque sobre o altar (mais de
20 anos depois). Seria impossível a Abraão ser considerado amigo de Deus caso
ele não fosse justificado primeiro (Deus lhe atribuiu justiça).
Isso corrobora certas passagens das cartas de Paulo que diz:
“Porque
somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes
preparou para que andássemos nelas.” Efésios
2:10
“Fiel é esta palavra, e quero que a proclames com firmeza para que os que
crêem em Deus procurem aplicar-se às boas obras. Essas coisas são boas e
proveitosas aos homens.” Tito 3:10
Algumas
objeções fatalmente são levantadas. A mais comum é: “existem pessoas que não
creêm em Deus e fazem boas obras, levam vidas que são exemplos a qualquer
cristão.”
Essa
objeção é verdadeira, infelizmente as vezes isso acontece, porém é aí que o
conceito de justificação pela fé somente leva proeminência sobre as obras, pois
se as obras tivessem proeminência, o sacrifício de Jesus no calvário seria
somente uma parte a mais da salvação, e não o fundamento único. E também é
preciso a qualquer ser humano estar em Cristo para fazer algo que Deus
considere uma boa obra.
“Mas quem
pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras
são feitas em Deus.” João 3:21
Assim como o centurião Cornélio (Atos 10) que era homem justo
e piedoso por sua vida porém faltava-lhe aproximar-se da luz (Cristo) para
efetivamente ser justificado, toda pessoa que tem um estilo de vida que se doa
ao próximo mas não visa a glória de Deus como objetivo de suas vidas, está
fardada à perdição se não converter essas boas obras com a fé na morte e ressurreição
de Jesus. Efetivamente é a fé antes das obras (não sem) mas antes que nos leva
ao céu, pois assim o mérito da salvação dos pecadores está 100% nas mãos de
Jesus.
A conclusão é que nunca houve essa história de Paulo x Tiago,
os dois agiram concomitantemente para um mesmo fim: mostrar que a salvação pela
fé em Cristo Jesus nos leva a prática de boas obras para cumprir Mateus 5:16: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que
está nos céus.” O objetivo da nossa
salvação é transformar nossa vida para que mediante a isso nós transformemos as
vidas de outras pessoas levando-as para Deus e desse modo, glorificar seu Santo
nome.
“Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.” I coríntios 1:30-31
[1] Bíblia de estudo de Genebra
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