A
bíblia e os direitos humanos
Um
dos maiores equívocos de nossa geração é acreditar que é a mais
evoluída de todas. Isso é algo que sempre acontece as sociedades:
olham para o passado com desprezo as suas leis e códigos de conduta
e julgam viver no mais maravilhoso dos mundos.
Não poderia ser
diferente com a nossa, que advoga viver no melhor dos tempos. O mais
engraçado é que daqui a 100 anos, provavelmente nossos descendentes
dirão a mesma coisa que falamos de nossos antepassados:
ultrapassados…
Uma
das maiores conquistas que os seres viventes de hoje gritam aos
quatro ventos é a conquista dos direitos humanos para todos (em
teoria).
Direitos
humanos, por definição e de uma forma bem resumida são os direitos
básicos de todos os seres humanos. Como por exemplo: direitos civis
e políticos, direitos à propriedade, saúde, etc. [1]
Sem
entrar no demérito do teor ideológico de como esses direitos tem
sido usados, mostrarei aqui que eles não nasceram por acaso, e sim,
tiveram a mesma fonte de nossa fé: a bíblia.
Em
êxodo 20, a partir da entrega dos dez mandamentos da parte de Deus à
Moisés, começa então uma série de ordenanças sobre como os
israelitas deveriam viver em Canaã. Alguns que leem essas narrativas
sem levar em conta o contexto histórico são tentados a achar que
Deus foi injusto e que essas leis são opressoras. Porém, ignoram-se
2 fatos:
1-
Quem afirma isso, o faz com vista em seu próprio código padrão de
seu tempo, ignorando que os direitos humanos evoluiram ao longo do
tempo, tendo o cristianismo papel fundamental na concepção deles.
2-
A lei mosaica (origem dos direitos humanos na forma como conhecemos
hoje) deve ser comparada com códigos de direitos do seu tempo, não
com um código de sociedade de 3500 anos depois.
A
nível de comparação, seguem dois códigos de leis de civilizações
relativamente próximas e que estavam em vigor à época da lei
mosaica:
Leis
de Eshunna, 1800 A.C
“Se
um homem livre não tiver justa reivindicação contra um homem
livre, mas mesmo assim, raptar a moça escrava do outro homem livre,
deter a raptada na sua casa e provocar a morte dela, ele deve dar
duas moças escravas ao dono da primeira escrava, como indenização.
Se não tiver justa reivindicação, contra uma pessoa de classe
superior, mas raptar sua esposa ou seu filho provocar a morte deles,
é um crime capital. Quem assim raptou, deverá morrer.” [2]
Código
de Hamurábi, 1726 A.C
“Se
um nobre ferir a filha de outro nobre livre, e provocar um aborto da
parte dela, deve pagar dez siclos de prata pelo feto dela. Se aquea
mulher morrer, devem matar a filha do primeiro. Se, por uma pancada
violenta, provocar um aborto da filha de um membro da plebe, deve
pagar cinco ciclos de prata. Se aquela mulher morrer, deve pagar 1/2
mina de prata . Se ferir a escrava de um nobre e provocar um aborto
da parte dela, deve pagar dois siclos de prata. Se aquela escrava
morrer, deve pagar 1/3 de mina de prata” [3]
Muitas
coisas poderiam ser examinadas nessas leis, mas o que chama a atenção
de forma gritante é o tratamento diferente com relação as classes
de pessoas (Marx vibra neste momento). Se o crime for contra uma
escrava (mesmo se for assassinato) a punição é o pagamento de uma
multa; se for contra outra pessoa da nobreza, a pena é a morte. E
observando mais atentamente, os homens da nobreza ficavam
praticamente imunes aos devidos castigos. Nessas leis, mulheres e
escravos são tratados como propriedades de seu dono.
Começa
então, a grande diferença em termos éticos e sociológicos do
Antigo testamento. O sexto mandamento em Êxodo 20 é neutro,
simplesmente diz: Não matarás! (Ex 20:13). Não há aqui qualquer
privilégio que seja. Se as pessoas seguiram ou não essa
recomendação, é outra história, mas fato é que Deus sempre
procurou proteger os mais fracos também: órfãos, viúvas e
estrangeiros, bem como mulheres e crianças, que não deveriam ser
tratados como objetos.
Um
pouco mais a frente vemos: “Quem ferir um homem levando-o a morte,
também será morto” (Ex 21:12). Apesar de muitos se chocarem com a
pena capital, deve ser levado em conta que aqueles eram tempos e
guerra e a pena capital era vista como algo totalmente comum. Essa
lei tem de ser comparada com as leis de sua época, não com nossas
leis que sofreram várias transformações até chegar no nivel em
que se encontram hoje (e ainda assim são ineficazes). O grande ponto
é novamente a neutralidade que Deus mostra em julgar um criminoso:
não importa a condição social ou condição de gênero, matar
alguém (sem ser legítima defesa) era passivel com a morte também,
seja homem, rico ou poderoso.
Alguns
criticam o fato de haver escravos, tanto no antigo quanto no novo
testamento:
1-
A escravidão nos dois testamentos não tem haver com motivos
étnicos, e sim, motivos de guerra e sobrevivência.
2-
A condição dos escravos nos dois testamentos era infinitamente
melhor do que a condição da escravidão que nós conhecemos
(especialmente dos povos africanos).
Um
exemplo disso se encontra aqui: “Não entregarás a seu senhor o
servo que, fugindo dele, se tiver acolhido a ti; contigo ficará, no
meio de ti, no lugar que escolher em alguma das tuas cidades, onde
lhe agradar; não o oprimirás.” Deuteronômio
23:15,16
Apesar
de nenhum autor bíblico fazer campanha pelo fim da escravidão (até
porque não era o propósito deles) foram cristãos, tanto na
Inglaterra quanto na Nova Inglaterra que começaram a onda
abolicionista que viria a atingir todo o ocidente.
Os cristãos
lutaram pelo fim da escravidão, não porque tinham noção acerca dos direitos humanos como formalizados hoje, mas eles
compreendiam que esse tipo de prática não condizia com a vontade de
Deus para os homens (veja Deuteronômio 24:7 e I Timóteo 1:9-11).
Nomes
como William Wilberforce, John Woolman, Martin Luther King Jr, Jerzy
Popieluszko, Oscar Romero, Dietrich Bonhhoeffer entre milhares de
outros, não apenas levantaram suas vozes em busca de um mundo melhor
(sem matar ou aniquilar os adversários para isso) como alguns até
deram a própria vida. A bíblia, ao invés de ser a causadora dos
males do mundo, como alguns injustamente a acusam, é a fonte da
busca por um mundo melhor, até a volta de Jesus.
Só então, viveremos no melhor dos mundos.
[1]http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf
[2] J.B Prichard, Anciente near eastern texts relating to the old testament, ed Princenton university press, 1969, p. 162
[3] J.B Prichard, Anciente near eastern texts relating to the old testament, ed Princenton university press, 1969, p. 179
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