A mão esquerda de Deus: Lutero e o estado
Martinho Lutero desenvolveu sua teoria em relação aos dois reinos de Deus:
"Pois Deus estabeleceu tipos de governo entre os homens. Um é espiritual; não tem espada, mas têm a palavra, por meio do qual os homens devem tornar-se bons e justos, para que, mediante essa retidão, possam alcançar a vida eterna (nota: Lutero de forma nenhuma cria que a salvação era por obras, mas como diz a epístola de Tiago, a fé sem obras é morta). Ele administra essa retidão mediante a palavra, que confiou aos pregadores. O outro tipo é o governo mundano, que opera por meio de espada, a fim de que os que não desejam tornar-se bons e justos para a vida eterna sejam forçados a tornar-se bons e justos aos olhos do mundo. Ele administra essa retidão mediante a espada"
A idéia de dois estados correlatos, pelos quais Deus governa o mundo remonta à Agostinho, que dividiu o mundo em duas cidades: a cidade de Deus, composta pelos eleitos dele peregrinando em direção a seu destino celeste (inspiração para John Bunyan dar vida ao clássico O peregrino?) e a cidade da Terra, também chamada cidade do diabo, cujos habitantes existem fora da esfera da graça. No éon (era) presente, as duas cidades estão misturadas.
Martinho elaborou sua teoria em oposição a duas teorias de reinos vigentes no mundo: a do catolicismo medieval e a dos anabatistas.
A do catolicismo medieval dizia que o papa era soberano sobre os governantes seculares, mediante uma declaração do papa Gelásio I em 494. Já os anabatistas recusavam qualquer participação no que tange ao envolvimento com o estado.
Baseando suas crenças em Romanos 13 e I Pedro 2.13-14, Lutero afirmava que o estado era ordenado por Deus fundamentalmente para reprimir os malfeitores e preservar a paz e a ordem no mundo. Ele usou metáforas diferentes para descrever essas duas formas de governo: O reino de Cristo, a igreja, é a "mão direita de Deus"; o reino do mundo, o estado, é a "mão esquerda de Deus". Além disso, o governante secular é uma "máscara de Deus" (do latim, larva Dei) mediante o qual Deus "disfarçado", por assim dizer, governa o mundo.
Podemos obter duas conclusões a partir disso:
1- A origem do estado não se encontra numa vontade autônoma de poder, nem em um consenso humano, mas sim, na vontade ordenada de Deus (Romanos 13 é claríssimo quanto a isso, pois apesar de estar escrito "autoridades" e muitas pessoas usarem isso para autoridades eclesiásticas, a autoridade em questão é magisterial, secular).
2- Igreja e estado coexistem numa tensão necessária. A distinção entre eles não deve ser obscurecida, mas também não precisa ser tão precisamente traçada, a ponto de um não ajudar o outro.
Os cristãos então se encontram numa posição ambígua: são cidadãos dos dois reinos. Lutero insistia aos cristãos aceitarem as responsabilidades cívicas, desde que não violassem a lei de Cristo, por amor ao próximo.
O "reino da mão esquerda" não devia se intrometer na igreja (não é, senhores que vêm as igrejas para pedir voto?). Sua função específica era fornecer justiça, ordem e tranquilidade à sociedade.
No "reino da mão direita", Deus governa em pessoa (não oculto atrás de uma máscara, como no reino secular, mas diretamente, através de seus ministros, seus sacramentos, e principalmente sua palavra).
O estado foi ordenado por Deus como concessão ao pecado da humanidade. Não era e nunca foi o agente redentor dos seus salvos, até porque, Lutero era bem claro quanto ao destino do mundo:
"Pois o mundo é algo doente...como um hospital, ou como uma estola de pele, onde nem o couro e nem o pêlo são úteis"
A do catolicismo medieval dizia que o papa era soberano sobre os governantes seculares, mediante uma declaração do papa Gelásio I em 494. Já os anabatistas recusavam qualquer participação no que tange ao envolvimento com o estado.
Baseando suas crenças em Romanos 13 e I Pedro 2.13-14, Lutero afirmava que o estado era ordenado por Deus fundamentalmente para reprimir os malfeitores e preservar a paz e a ordem no mundo. Ele usou metáforas diferentes para descrever essas duas formas de governo: O reino de Cristo, a igreja, é a "mão direita de Deus"; o reino do mundo, o estado, é a "mão esquerda de Deus". Além disso, o governante secular é uma "máscara de Deus" (do latim, larva Dei) mediante o qual Deus "disfarçado", por assim dizer, governa o mundo.
Podemos obter duas conclusões a partir disso:
1- A origem do estado não se encontra numa vontade autônoma de poder, nem em um consenso humano, mas sim, na vontade ordenada de Deus (Romanos 13 é claríssimo quanto a isso, pois apesar de estar escrito "autoridades" e muitas pessoas usarem isso para autoridades eclesiásticas, a autoridade em questão é magisterial, secular).
2- Igreja e estado coexistem numa tensão necessária. A distinção entre eles não deve ser obscurecida, mas também não precisa ser tão precisamente traçada, a ponto de um não ajudar o outro.
Os cristãos então se encontram numa posição ambígua: são cidadãos dos dois reinos. Lutero insistia aos cristãos aceitarem as responsabilidades cívicas, desde que não violassem a lei de Cristo, por amor ao próximo.
O "reino da mão esquerda" não devia se intrometer na igreja (não é, senhores que vêm as igrejas para pedir voto?). Sua função específica era fornecer justiça, ordem e tranquilidade à sociedade.
No "reino da mão direita", Deus governa em pessoa (não oculto atrás de uma máscara, como no reino secular, mas diretamente, através de seus ministros, seus sacramentos, e principalmente sua palavra).
O estado foi ordenado por Deus como concessão ao pecado da humanidade. Não era e nunca foi o agente redentor dos seus salvos, até porque, Lutero era bem claro quanto ao destino do mundo:
"Pois o mundo é algo doente...como um hospital, ou como uma estola de pele, onde nem o couro e nem o pêlo são úteis"
Nenhum comentário:
Postar um comentário