segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

 O cuidado com a pregação
"Mas ainda que um de nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que temos pregado seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além do que recebestes, seja anátema."
Gálatas 1:8-9 
 
Esses versículos mostram a preocupação de Paulo em que os seus amados cidadãos da Galácia recebessem um evangelho deturpado. Trazendo aos nossos dias, é necessário trazer esse zelo por uma pregação autêntica de volta.
 
O trecho em questão trata do evangelho judaizante que queriam empurrar aos gálatas, mas cai como uma luva para nos trazer a tona um tema: a ineficácia das pregações atualmente. Muitas coisas mudaram do século XIX para cá e os pregadores que marcam época tornaram-se cada vez mais raros. Tanto a igreja primitiva quanto a reforma protestante foram liderados por pregadores marcantes. Os grandes avivamentos idem. Se a igreja evangélica têm adoecido e encontra-se fraca (muitos adoradores extravagantes hão de discordar de mim, porém é só comparar com a igreja bíblica) a culpa é principalmente de quem se dispõe a pregar.
 
Em Tito 1:9 a bíblia nos mostra que o ministro deve ser "apegado à palavra fiel", em I corintios 2:5 a pregação não deve se "apoiar em sabedoria humana, e sim no poder de Deus".Todas as profissões humanas e suas filosofias servem no máximo para serem citadas uma vez ou outra. Ficar se baseando em conhecimento humano para montar a espinha dorsal (sustento) da pregação é ir contra esta verdade: "A minha pregação e a minha palavra não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder" (I co 2:4). Atualmente a psicologia tem tomado conta dos púlpitos. Parece que para ser um bom pregador, é necessário recorrer aos ensinos de Freud sobre a psique (alma) humana.
 
O resultado disso são igrejas transformadas em divã, onde o homem requer que ele esteja no centro da pregação e que sempre precise de mensagens de auto-ajuda, criando pessoas espiritualmente fracas, mimadas e despreparadas para as dificuldades, que sabem mais sobre 300 louvores diferentes, ou tudo sobre temperamentos e crises de identidade mas não sabem de cor os 10 mandamentos ou as 9 partes do fruto do Espírito. Como dizia John Stott: sermaozinhos geram cristãozinhos.
 
No salmo 119:2 vemos que "bem aventurado os que guardam as suas prescrições" porém, o que mais vemos nos dias de hoje são pregações desconexas com o texto bíblico, o clássico texto isolado (praga de quem não quer aprender ou faz de propósito). Texto sem contexto é pretexto para esconder uma pregação fraca ou coisa pior. O pregador deve ficar sempre no texto, não precisamos ouvir histórias aos montes (um pouco ajuda, mas muito atrapalha), não precisamos ouvir historinhas engraçadas, piadas no púlpito. Pregação é coisa séria!!! Não precisamos de histórias de que tudo vai dar certo (mentira popular hoje em dia), precisamos ouvir verdades bíblicas fiéis ao texto bíblico e ao contexto histórico ao qual foi escrito.

Precisamos ser ensinados corretamente, coisa que é responsabilidade dos pregadores (no novo testamento, as funções do presbitero eram oração, pregação e ensino) e mestres. O dever de quem ouve é julgar segundo a reta justiça (Jo 7:24) e não segundo os nossos padrões de achismo (Mt 7:1). Uma pregação que não é cristocêntrica, independente do tema (bênção, vitória, prosperidade, matar os inimigos), não é uma pregação, é uma enrolação.

sábado, 14 de dezembro de 2013

O mover misterioso de Deus na vida de William Cowper

Hoje de manhã eu estava conversando com William Cowper (conversar nos meus termos é ler e refletir sobre como Deus agiu na vida de santos do passado a fim de crescer na vida cristã) e relembrei como Deus muitas vezes, age de modo dificil para nós e muitas vezes não nos dá explicação. Muitos acham isso terrível, porém, o Deus todo-poderoso não têm compromisso com nossas satisfações, e sim, com a sua glória.

Antes de vermos o porque disso, analisemos alguns fatos rápidos da vida desse homem:

- Perdeu a mãe aos seis anos de idade
- Sofria de esquizofrênia aguda; tentou o suicídio 4 vezes
- Suspeita-se de que tenha sido abusado sexualmente por seu pai durante a infância
- Namorou e noivou durante 7 anos, perto do casamento o pai da noiva exigiu o fim do romance [1]

Cowper foi um "cisne sofredor", como John Piper gosta de chamá-lo. Se vivesse nos dias de hoje, seria acusado de falta de fé, estar fora da visão, estar em pecado, Deus o está castigando....

Mas biblicamente vemos que: E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança, e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança; e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Romanos 5:3-5

As dificuldades da vida servem principalmente para um fim: a perseverança! Nunca chegariamos ao céu sem as tribulações, pois somos tendenciosos ao comodismo e a frieza espiuritual muito rapidamente. É também por isso que Agur sabiamente nos diz:

Afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza: dá-me só o pão que me é necessário; para que eu de farto não te negue, e diga: Quem é o Senhor? ou, empobrecendo, não venha a furtar, e profane o nome de Deus. Provérbios 30:8-9

A riqueza obviamente significa a ausência de dificuldades, e Agur bem sabia que isso o levaria a se afastar da presença de Deus. Batalhas constantes servem para cada vez mais sermos forjados no fogo (igualmente como um aço bruto é forjado no fogo até virar uma espada, ou o ouro quando é purificado pelo fogo, retirando suas impurezas).

A história por trás da música que inspirou esse post é uma perfeita demonstração da providência de Deus:

Um dia, William Cowper saiu de casa decidido a se matar.  Pegou um coche e seguiu em rumo à ponte de Londres. O trajeto da sua casa até a ponte levava 10 minutos, mas o cocheiro (alguém que conhecia o caminho como poucos devido a sua experiência) simplesmente não conseguia chegar ao destino. Vagueou por duas horas, até que Cowper pediu para voltar para casa. Quando o cocheiro deixou Cowper em casa disse que não precisava pagar, pois não tinha completado o serviço. Cowper respondeu: "Você engana-se, você pode não saber, mas você cumpriu exatamente aquilo o que Deus queria." Pagou o cocheiro, entrou em casa, sentou-se e começou a escrever "Deus se move de forma misteriosa".

William Cowper sofreu severamente até o fim de sua vida com a esquizofrênia, a insanidade e a melancolia. Mas de forma nenhuma isso mostra que Deus estava longe dele, muito pelo contrário. Somente a graça soberana do Deus soberano é capaz de prover lucidez tamanha ao ponto de tornar alguém com severas lutas mentais e tendências suicidas em um compositor tão abençoado. Ensina-nos a cantar William Cowper!

Deus se move de forma misteriosa

Deus se move de formas misteriosa 
Para realizar suas maravilhas
Ele imprime suas pegadas no mar
E cavalga sobre a tempestade.

Fundo, em minas imensuráveis
De habilidade que nunca falha,
Ele entesoura seus desígnios brilhantes
E opera sua vontade soberana.

Vós, santos medrosos, renovai a coragem!
As nuvens que tanto temeis,
São grandes em misericórdias, e irromperão
Em bênçãos sobre vossas cabeças.

Não julgue o Senhor com débil entendimento,
Mas confie nele pela sua graça.
Por trás de uma providência carrancuda,
Ele oculta uma face sorridente.

Seus propósitos amadurecerão rapidamente,
Desvendo-se a cada hora;
O botão pode ter um gosto amargo,
Mas a flor será doce.

A incredulidade cega certamente errará
E esquadrinha sua obra em vão:
Deus é seu próprio intérprete
E ele o tornará claro. 




Quem puder ouça também esta bela versão





[1] O sorriso escondido de Deus; John Piper
E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança,
e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança;
e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

Romanos 5:3-5
E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança,
e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança;
e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

Romanos 5:3-5

sexta-feira, 8 de novembro de 2013



Estudo sobre a TULIP: Depravação total



Depravação total não significa que o ser humano é tão mal quanto pode ser. Significa que mesmo em cada ato de bondade, boas obras e aparência piedosa (sem a presença de Deus) há uma mancha, uma marca do pecado. Fruto máximo da queda do jardim do éden, o pecado habita no ser humano de tal forma, que só um milagre para reverter a situação.

Alguns podem argumentar: como o ser humano é tão mal assim se existem pessoas que nunca foram cristãs e suas vidas são um exemplo para nós? A resposta é que mesmo destituídas da glória de Deus (Rm 3:23) existe em cada ser humano algo como uma “semente de Deus”. 

Ponto 1: A semente de Deus

Analisemos esse trecho:

“Os quais (gentios) mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os;” (Romanos 2:15)

E também: 

“Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a idéia da eternidade, se bem que este não possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim.” (Eclesiastes 3:11)

Logo, chegamos a conclusão que todo ser humano tem uma vaga idéia, uma vaga noção de que existe um Deus e precisa adorá-lo.  Não é de surpreender que existam várias religiões ao redor do mundo, as pessoas sabem ou sentem que precisam adorar algo ou alguem superior, o problema é que elas direcionam suas adorações a “deuses” ou pessoas erradas. 

Isso explica porque tantas pessoas tratam seus parceiros como deuses, os quais não conseguem viver sem, porque tantas pessoas idolatram times de futebol, amigos, artistas, atores, pessoas, pessoas,  pessoas...
Eles simplesmente se utilizam da “semente de Deus” de uma forma errônea. Ao invés de adorarem ao criador do universo, adoram a outros, ou a si mesmas.

Ponto 2: A fonte corrompida

Mais um argumento de que o homem é incapaz por si só de escolher ou fazer o que é bom: sua fonte está corrompida. Analisemos:

“Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” (Provérbios 4:23)

Se é do nosso coração que procedem as fontes da vida, é óbvio que é dai que saem as nossas decisões, bem como a de querer ser salvo, de fazer coisas boas. Mas a biblia não é gentil com nosso coração:
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o poderá conhecer?” (Jeremias 17:9)
 
O nosso coração é simplesmente nosso maior inimigo. O profeta deixa bem claro que o coração é enganoso mais do que todas as coisas, nada pode ser pior do que ele. Desesperadamente corrupto, algo que indica uma continuidade maligna. O pior é a pergunta quase sem resposta: quem o poderá conhecer? Essa passagem por si só já condenaria a questão de que somos sábios para tomar qualquer (e eu digo qualquer mesmo) decisão. Mas tem alguem com uma opinião bem mais forte:

“Mas o que sai da boca procede do coração; e é isso o que contamina o homem.Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” (Mateus 15:18-19)

O próprio Jesus condenou o nosso coração em todas as instâncias possiveis. Ele classificou o nosso coração como o autor de várias categorias de crimes.

Se o nosso coração é fonte de vida, e Jesus e Jeremias nos mostram quão corrupto é nosso coração, a que conclusão podemos chegar? Simples: nós por nós mesmos só queremos e desejamos o que é mau mesmo quando aparentamos querer o bem.

Ponto 3: A escravidão da vontade e do pecado

“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob a escravidão do pecado. Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está. Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo com o entendimento sou escravo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado." (Romanos 7:14-25)

Aqui vemos mais do que uma averiguação, é uma confissão. O apóstolo Paulo simplesmente sintetiza toda a existência humana: escravos do pecado. Alguns podem afirmar: “ah, mas ele se refere a lei mosaica”. Isso não passa de falácia, por dois motivos:

1-      O simples fato de Paulo estar usando a palavra “lei” não quer dizer que seja somente o período da lei mosaica. A palavra lei é muito mais ampla que o sistema cerimonial e sacrifical da lei. Quando a palavra lei é usada no novo testamento, refere-se à algo como vontade de Deus. Paulo usa expressões como “lei do Espirito e da vida” (Rm 8:2), “lei de Cristo” (Gl 6:2) entre outros. A lei, smepre foi e sempre será a vontade de Deus revelada.

2-      O tempo verbal que o aposto usa o tempo inteiro é o tempo presente. Ele afirma explicitamente que ele é (tempo verbal: presente) carnal,  ele diz que não faz (tempo verbal:presente) o que prefere, mas faz o que detesta (tempo verbal: presente). Todos os verbos que mostram sua fraqueza em fazer a vontade de Deus por si só está no tempo verbal do presente. 

Então, obviamente Paulo reconhecia que ele, mesmo já tendo feito tanto pelo reino de Cristo ( a epístola aos romanos foi escrita por volta de 57 d.c, anos após sua conversão e inicio ministerial) ele sabia que ele pelas próprias forças, cairia nos seus pecados.


“Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado.Ora, o escravo não fica para sempre na casa; o filho fica para sempre.Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:34-36)

Jesus diz explicitamente: todo aquele que comete pecado. Basta um só para nos escravizar. A morte entrou no mundo através de um só homem (Rm 5) e com isso, toda a humanidade tornou-se escrava do cativeiro da vontade. 

Para um escravo ser liberto, só há 2 opções: ou ele foge (o que no caso do pecado, como já vimos é impossível) ou o senhor dele o dá a carta de alforria. Acaso pensam que é coincidência quando Colossenses  2:14 nos diz: “e havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz?”. É exatamente a mesma coisa quando um senhor liberta seu escravo. E é aqui que entramos no ponto final:

              Ponto 4: O único que pode nos libertar: Jesus Cristo
 

“Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado.Ora, o escravo não fica para sempre na casa; o filho fica para sempre.Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:34-36)

“tendo sido sepultados com ele no batismo, no qual também fostes ressuscitados pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos;e a vós, quando estáveis mortos nos vossos delitos e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-nos todos os delitos;e havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz;” (Colossenses 2:12-14)

"E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, e ele também o fará." (I Tessalonicenses 5:23-24)

"De sorte que, meus amados, do modo como sempre obedecestes, não como na minha presença somente, mas muito mais agora na minha ausência, efetuai a vossa salvação com temor e tremor;porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade." (Filipenses 2:12-13)

De fato, são pouquissimos os versiculos que me veem a cabeça, porém em todos eles a essência é a mesma: é Deus, e somente Ele, através  da obra do Senhor Jesus Cristo e do testemunho interno do Espirito Santo é que pode salvar o ser humano. É simplesmente impossivel que qualquer ser humano possa dizer que quis Jesus, que optou por Ele. 

Se não fosse o braço forte do Senhor nos tirando das trevas, jamais conseguiríamos sair e prosseguir em Cristo. A pessoa que acha que por si só consegue algo (lembrem-se de João 15-5: Eu sou a videira; vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.) simplesmente desconhece o que é graça.

“para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.”
1 Coríntios 1:31
 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

A mão esquerda de Deus: Lutero e o estado


Martinho Lutero desenvolveu sua teoria em relação aos dois reinos de Deus:

"Pois Deus estabeleceu tipos de governo entre os homens. Um é espiritual; não tem espada, mas têm a palavra, por meio do qual os homens devem tornar-se bons e justos, para que, mediante essa retidão, possam alcançar a vida eterna (nota: Lutero de forma nenhuma cria que a salvação era por obras, mas como diz a epístola de Tiago, a fé sem obras é morta). Ele administra essa retidão mediante a palavra, que confiou aos pregadores. O outro tipo é o governo mundano, que opera por meio de espada, a fim de que os que não desejam tornar-se bons e justos para a vida eterna sejam forçados a tornar-se bons e justos aos olhos do mundo. Ele administra essa retidão mediante a espada"


A idéia de dois estados correlatos, pelos quais Deus governa o mundo remonta à Agostinho, que dividiu o mundo em duas cidades: a cidade de Deus, composta pelos eleitos dele peregrinando em direção a seu destino celeste (inspiração para John Bunyan dar vida ao clássico O peregrino?) e a cidade da Terra, também chamada cidade do diabo, cujos habitantes existem fora da esfera da graça. No éon (era) presente, as duas cidades estão misturadas.

Martinho elaborou sua teoria em oposição a duas teorias de reinos vigentes no mundo: a do catolicismo medieval e a dos anabatistas. 

A do catolicismo medieval dizia que o papa era soberano sobre os governantes seculares, mediante uma declaração do papa Gelásio I em 494. Já os anabatistas recusavam qualquer participação no que tange ao envolvimento com o estado.

Baseando suas crenças em Romanos 13 e I Pedro 2.13-14, Lutero afirmava que o estado era ordenado por Deus fundamentalmente para reprimir os malfeitores e preservar a paz e a ordem no mundo. Ele usou metáforas diferentes para descrever essas duas formas de governo: O reino de Cristo, a igreja, é a "mão direita de Deus"; o reino do mundo, o estado, é a "mão esquerda de Deus". Além disso, o governante secular é uma "máscara de Deus" (do latim, larva Dei) mediante o qual Deus "disfarçado", por assim dizer, governa o mundo. 

Podemos obter duas conclusões a partir disso:

1- A origem do estado não se encontra numa vontade autônoma de poder, nem em um consenso humano, mas sim, na vontade ordenada de Deus (Romanos 13 é claríssimo quanto a isso, pois apesar de estar escrito "autoridades" e muitas pessoas usarem isso para autoridades eclesiásticas, a autoridade em questão é magisterial, secular).

2- Igreja e estado coexistem numa tensão necessária. A distinção entre eles não deve ser obscurecida, mas também não precisa ser tão precisamente traçada, a ponto de um não ajudar o outro.

Os cristãos então se encontram numa posição ambígua: são cidadãos dos dois reinos. Lutero insistia aos cristãos aceitarem as responsabilidades cívicas, desde que não violassem a lei de Cristo, por amor ao próximo.

 O "reino da mão esquerda" não devia se intrometer na igreja (não é, senhores que vêm as igrejas para pedir voto?). Sua função específica era fornecer justiça, ordem e tranquilidade à sociedade.

 No "reino da mão direita", Deus governa em pessoa (não oculto atrás de uma máscara, como no reino secular, mas diretamente, através de seus ministros, seus sacramentos, e principalmente sua palavra). 

O estado foi ordenado por Deus como concessão ao pecado da humanidade. Não era e nunca foi o agente redentor dos seus salvos, até porque, Lutero era bem claro quanto ao destino do mundo:

"Pois o mundo é algo doente...como um hospital, ou como uma estola de pele, onde nem o couro e nem o pêlo são úteis"

sexta-feira, 1 de março de 2013

O eterno duelo

Provavelmente, lá se vão quase 2000 anos de discussão e até hoje não se chegou a uma conclusão: quem está certo, o monergismo (calvinismo) ou sinergismo (arminianismo)?

Os nomes nos levam a dois teólogos famosos: João Calvino e Jacob Arminius. Eles não foram contemporâneos entre si e Arminius foi inclusive discípulo dos ensinos de Calvino, o porém, é que essa discussão é muito mais antiga, provavelmente iniciada nos tempo apostólico.

Um épico debate sobre se deu entre Aurelius Agostinho e Pelágio da bretanha. Agostinho, fortemente influenciado por Ambrósio, afirma que somente a graça de Deus pode levar o homem à salvação. Pelágio rebatia afirmando que o homem possui o livre-arbítrio para querer ser salvo. Deus entra com 99% da salvação e o homem entra com 1%. Após sua morte, os ensinos de Pelágio foram considerados hereges.

Mais de mil anos depois, outro grande debate sobre o assunto se deu: Martinho Lutero x Erasmo de Roterdã, com Lutero defendendo a doutrina da graça e Erasmo o livre-arbítrio.

Em 1610 os seguidores de Arminius lançam os cinco pontos do arminianismo, dos quais estão aqui:

  1. a eleição (e condenação no dia do jugamento) foi condicionada pela fé racional ou não-fé do homem;
  2. a expiação, embora qualitativamente suficiente à todos os homens, só é eficaz ao homem de fé;
  3. sem o auxílio do Espírito Santo, nenhuma pessoa é capaz de responder à vontade de Deus;
  4. a graça não é irresistível; 
  5. os crentes são capazes de resistir ao pecado, mas não estão fora da possibilidade de cair da graça.


Ponto crucial: Deus salva o homem, porém o mesmo pode escolher mediante o seu livre-arbítrio (poder de escolha) se quer ser salvo ou não.

Em 1618-1619, houve o famoso Síndoto de Dort, formado por 84 teólogos e 21 leigos que declararam o arminianismo uma heresia e em contra ponto, lanam os cinco pontos do calvinismo, que são:

  • Depravação total do homem;
Também chamada de "depravação radical", "corrupção total" e "incapacidade total". Indica que toda criatura humana, em sua condição atual, ou seja, após a queda, é caracterizada pelo pecado, que a corrompe e contamina, incluindo a mente. Por isso, afirma-se que ninguém é capaz de realizar o que é verdadeiramente bom aos olhos de Deus. Em contrapartida, o ser humano é escravo do pecado, por natureza hostil e rebelde para com Deus, espiritualmente cego para a verdade, incapaz de salvar a si mesmo ou até mesmo de se preparar para a salvação. Só a intervenção direta de Deus pode mudar esta situação.
  • Eleição incondicional;
Eleição significa "escolha". É a escolha feita por Deus desde toda a eternidade, daqueles a quem ele concedeu a graça da salvação. Esta escolha não se baseia no simples mérito, ou na fé das pessoas que ele escolhe, mas se baseia em sua decisão soberana e incondicional, irrevogável e insondável. Isso não significa que a mesma salvação final é incondicional, mas que a condição em que assenta (fé) é concedida também pela graça de Deus, como seu presente para aqueles a quem Ele escolheu incondicionalmente.
  • Expiação limitada;
Também chamada de "redenção particular" ou "redenção definida", significa a doutrina segundo a qual a obra redentora de Cristo foi apenas visando a salvação daqueles que têm sido alvo da graça da salvação. A eficácia salvífica do Cristo redentor, então, não é "universal" ou "potencialmente eficaz" para quem iria recebê-lo, mas especificamente designada para tornar possível a salvação daqueles a quem Deus Pai escolheu desde antes da fundação do mundo. Os calvinistas não acreditam que a expiação é limitada em seu valor ou poder (se Deus o Pai quisesse, teria salvo todos os seres humanos sem excepção), mas sim que a expiação é limitada na medida em que foi destinada para alguns e não para todos.
  • Vocação eficaz (ou Graça Irresistível);
Também conhecida como "graça eficaz", esta doutrina ensina que a influência salvífica do Espírito Santo de Deus é irresistível, superando toda e qualquer resistência. Quando então, Deus soberanamente visa salvar alguém, o indivíduo não tem como resistir à essa graça da vida eterna com o próprio Deus.
  • Perseverança dos santos.
Também conhecida como "preservação dos santos" ou "segurança eterna", este quinto ponto sugere que aqueles a quem Deus chamou para a salvação, e depois, à comunhão eterna com ele (" santos ", segundo a Bíblia) não podem cair em desgraça e perder sua salvação. Mesmo que, em suas vidas, o pecado os leve a renunciar à sua profissão de fé, eles (se eles são autênticos eleito), mais cedo ou mais tarde, retornarão à comunhão com Deus Essa doutrina é baseada na suposição de que a salvação é obra de Deus do começo ao fim, que Deus é fiel às Suas promessas, e que nada nem ninguém pode impedir Seus propósitos soberanos. Este conceito é ligeiramente diferente do conceito usado em algumas igrejas evangélicas, de "uma vez salvos - salvos para sempre", apesar da apostasia, a falta de arrependimento ou a permanência no pecado, desde que eles tiverem realmente aceito a Cristo no passado. No ensino tradicional calvinista, se uma pessoa cai em apostasia ou não mostra mais sinais de arrependimento genuíno, pode ser prova de que ele nunca foi realmente salvo, e, em seguida, que não fazia parte do número dos eleitos.

Ponto crucial: Deus escolheu por antecipação quem iria para o céu e quem iria para o inferno pois o homem por si só não consegue se achegar à Deus mediante o seu pecado.
REFERÊNCIAS BÍBLICAS:Gn 2:17; Gn 6:5; Gn 8:21 / 1Rs 8:46 / Jo 14:4 / Sl 51:5 / Sl 58:3 / Ec 7:20 Is 64:6 / Jr 4:22; Jr 9:5-6; Jr 13:23; Jr 17:9 / Jo 3:3; Jo 3:19; Jo 3:36;Jo 5:42; Jo 8:43,44 / Rm 3:10-11; Rm 5:12; Rm 7:18, 23; Rm 8:7 /1Co 2:14 / 2Co 4:4 / Ef 2:3 / Ef 4:18 / 2Tm 2:25-26 / 2Tm 3:2-4 / Tt 1:15 Dt 4:37; Dt 7:7-8 / Pv 16:4 / Mt 11:25; Mt 20:15-16; Mt 22:14 / Mc 4:11-12 Jo 6:37; Jo 6:65; Jo 12:39-40; Jo 15:16 / At 5:31; At 13:48; At 22:14-15 /Rm 2:4; Rm 8:29-30; Rm 9:11-12; Rm 9:22-23; Rm 11:5; Rm 11:8-10 /Ef 1:4-5; Ef 2:9-10 / 1Ts 1:4; 1Ts 5:9 / 2Ts 2:11-12; 2Ts 3:2/ 2Tm 2:10,19/1 Pe 2:8 / 2 Pe 2:12 / Tt 1:1 / 1Jo 4:19 / Jd 1:3-4 / Ap 13:8; Ap 17:17 1Sm 3:14 / Is 53:11-12 / Mt 1:21; Mt 20:28; Mt 26:28 / Jo 10:14-15 /Jo 11:50-53; Jo 15:13; Jo 17:6,9,10 / At 20:28 / Rm 5:15 / Ef 5:25 / Tt 3:5 /Hb 9:28 / Ap 5:9 Jr 24:7 / Ez 11:19-20; Ez 36:26-27 / Mt 16:17 / Jo 1:12-13; Jo 5:21; Jo 6:37; Jo 6:44-45 / At 16:14; At 18:27 / 1Co 4:7 / 2Co 5:17 / Gl 1:15 / Rm 8:30 / Ef 1:19-20 / Cl 2:13 / 2Tm 1:9 / 1Pe 2:9; 1Pe 5:10 / Hb 9:15 Is 54:10 / Jr 32:40 / Mt 18:14 / Jo 6:39; Jo 6:51; Jo 10:27-29 / Rm 5:8-10; Rm 8:28-32, Rm 8:34-39; Rm 11:29 / Gl 2:20 / Ef 4:30 / Fp 1:6 / Cl 2:14 /2Ts 3:3 / 2Tm 2:13,19 / Hb 7:25; Hb 10:14 / 1Pe 1:5 / 1Jo 5:18 / Ap 17:14.

Muito já foi discutido, debatido e tal, mas eu li a biblia toda e posso garantir que a bíblia dá margem para as duas vertentes. A bíblia não é clara até que ponto Deus nos predestina, sabemos que é para boas obras, para a salvação, fica a se pensar (opinião minha) e sabemos que o homem tem opção de escolha, mas não vejo mérito nenhum em nós por sermos salvos, esse mérito é de Jesus. Acho que um empate é o mais justo, muito embora o legado calvinista seja anos-liz a frente do arminiano.